Moradores do Plano Piloto estão convocando a população para uma manifestação pacífica no próximo sábado (17), com o objetivo principal de reivindicar soluções para a crescente insegurança na região, bem como para as invasões de áreas públicas e a permanência de pessoas em situação de rua que recusam acolhimento. A concentração será às 10h, em frente ao McDonald's da quadra 506 Norte. São esperadas mais de 100 pessoas.
Em entrevista ao Jornal de Brasília, um dos organizadores da manifestação, o locutor e jornalista Osvaldo Martins, explicou que os moradores do Plano Piloto avaliam a região como um local muito perigoso, onde os crimes acontecem 24 horas por dia. O jornalista disse ter sido ameaçado diversas vezes na Asa Sul e, em outra ocasião, foi assaltado no Setor de Clubes Esportivos Sul (SCES).
Osvaldo, que nasceu na capital federal e mora aqui desde 1972, contou à reportagem que as ameaças que sofreu foram feitas em vias públicas. “Sofri o que a maioria sofre. Recebi olhares, disseram que iam arranhar meu carro e já me fizeram ameaça com faca”, detalhou. Quando foi assaltado, há um tempo atrás, o seu celular foi levado junto à sua carteira e seus documentos.
“A Polícia Militar ajuda muito, porém a polícia prende e a justiça solta”, comentou Osvaldo, sobre a reincidência dos crimes. Em um vídeo postado nas redes sociais, o jornalista pede que os deputados distritais e o governador Ibaneis Rocha (MDB) se posicionem sobre o tema. “De que lado estão? Do povo ou dos bandidos? Nós não aguentamos mais, todo dia é roubo, assalto e ameaças”, questiona durante o vídeo.
Para que as demandas da sociedade cheguem ao poder público, os moradores utilizam grupos no WhatsApp para enviar informações e reclamações ao Governo do Distrito Federal (GDF). Além disso, procuram manter contato com parlamentares. Nesta terça-feira (13), aconteceu uma reunião entre moradores e o deputado distrital Thiago Manzoni, que colheu as reclamações da população.
Através do perfil @asa_norte_brasilia no Instagram, Osvaldo Martins tem postado vídeos que recebe de outros moradores que mostram as ações de bandidos. Em um deles, gravado na 716 Norte, dá para ver um homem pegando pedras na rua e jogando em carros estacionados próximos a ele. Em outro vídeo, outro homem invade um prédio na mesma quadra e rouba os esguichos dos extintores de incêndio.
Uma moradora da Asa Norte, que não quis se identificar, contou à reportagem que a sensação de insegurança está cada dia maior. No último mês, ela foi vítima de um assalto quando estava chegando em casa do trabalho, por volta das 19h. O suspeito levou a bolsa da mulher. “Depois desse dia, senti na pele que sair de casa se tornou algo perigoso. Agora convivo com esse sentimento”, pontuou.
Questionada sobre o tema, a Administração do Plano Piloto não se pronunciou. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) informou que têm direcionado investimentos para a capacitação das forças de segurança, a melhoria dos equipamentos utilizados e a adoção de tecnologias avançadas para otimizar o trabalho policial e o fortalecimento dos processos de gestão.
“Relatórios semanais são compartilhados com as forças de segurança, apontando as chamadas “manchas criminais”, em que é possível detectar dias, horários e locais de maior incidência de crimes, garantindo um policiamento efetivo”, complementou a pasta. Segundo a SSP, uma das medidas para garantir a segurança na cidade é o programa DF Mais Seguro - Segurança Integral.
Entre as ações do programa, está o monitoramento integrado entre as forças de segurança e outros 31 órgãos, bem como instituições e agências do governo local e federal, que atendem a 29 regiões administrativas do Distrito Federal, com 1.190 câmeras instaladas. Já com relação às pessoas em situação de rua, a SSP afirmou que o serviço de acolhimento continua sendo feito.
Na última ação, que ocorreu no último final de semana, o GDF realizou o serviço de acolhimento em 16 pontos do Plano Piloto, onde 18 pessoas foram localizadas e atendidas pelas secretarias envolvidas neste processo, entre elas a de Desenvolvimento Social, Saúde, Educação, Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda, Segurança Pública e Justiça e Cidadania.
Ainda com o intuito de aproximar a população das forças de segurança, a SSP-DF criou os Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs), que são de caráter consultivo e deliberativo, sem fins lucrativos e de cooperação voluntária. O intuito é atuar como espaços para discussão e análise de problemas que impactam as regiões administrativas do DF. Interessados na iniciativa podem entrar em contato pelo telefone (61) 3441-8878.
Os conselhos realizam reuniões ordinárias mensais, onde a comunidade contribui com críticas, sugestões e observações. As demandas de cada região são encaminhadas às autoridades governamentais do poder público, como os batalhões e delegacias de polícia.
No DF, são 39 conselhos comunitários, divididos por temas, regiões administrativas e zonas rurais.
Dados
De acordo com os dados divulgados pela SSP-DF, em 2024 já ocorreram 2.116 crimes contra o patrimônio na região do Plano Piloto. O índice considera os crimes de roubo a pedestres, roubo de veículo, roubo em coletivo, roubo em comércio, roubo em residência e furto em veículo. Só em julho foram 79 roubos, 3 roubos de veículos, 2 roubos em coletivo, 4 roubos em comércio e 162 furtos em veículos.
Em comparação com o mês anterior, foram 3 casos a mais, contudo, os número ainda são menores do que os registrados nos meses de janeiro, fevereiro, março, abril e maio. Ainda em julho, a RA do Plano Piloto registrou 4 tentativas de homicídio, 3 estupros e 57 furtos a pedestres, totalizando 64 ocorrências, sendo 19 casos a mais do que o registrado em junho (45 casos).
Para denunciar um crime, a população pode ir à qualquer delegacia de polícia ou ligar no número 190. “A SSP/DF destaca a importância do registro de ocorrências pela população para subsidiar a elaboração de estudos e manchas criminais que indicam dias, horários e locais de maior incidência de cada crime, entre outras informações relevantes para o processo de investigação”, destacou a pasta, em nota.
